UEMS – UNIVERSIDADE ESTADUAL DO
MATO GROSSO DO SUL
Darçoni M. Chaves (G UEMS -UNOPAR)
A DIALÉTICA DO ESCLARECIMENTO:
Fragmentos
Filosóficos
Paranaíba
2012
A
partir da obra Dialética do Esclarecimento, de Theodoro W. Adorno e Max.
Horkheimer procura-se
compreender as razões desse mesmo processo de esclarecimento ser visto pelos autores
como o caminho para o desencantamento do mundo e da forma como eles
correlacionam razão e mito.
No entanto é preciso analisar em que condições tal obra foi escrita e os
conflitos pelos quais passava toda a humanidade em meio a duas grandes guerras e
no ápice de uma enorme transformação social.
O homem que saia de sua condição de submissão das forças da natureza e do
jugo religioso cuja existência estava à mercê da vontade soberana de Deus e
coagido pelo medo imposto pelas explicações mitológicas dos fenômenos naturais
percebeu que com o esclarecimento alcançaria o domínio das ciências e com isso
conquistaria sua autonomia, pois o domínio da realidade proporcionaria o
desencantamento do mundo regido pelos mitos.
Mas para os autores o esclarecimento
ou a ideia de ser esclarecido por si só já é um grande mito e que a ordem que
damos naquilo que julgamos conhecer aparece apenas como uma racionalização de
um mito anterior. Isso faz parte do programa do esclarecimento, objeto da
perseguição humana com o objetivo de livrar-se do medo e conquistar a condição
de senhores.
A ciência vem tentando desmistificar a existência das coisas, e Bacon conhecido
como o pai da filosofia experimental procurava através do processo da negação
descobrir o que realmente havia de racional nos seres e no mundo, sendo assim
ele desprezava aquilo que era visto como tradição.
A ciência moderna rechaça as idéias filosóficas do mito e procura
explica-los, racionaliza-los dentro da história, enquanto a filosofia tenta
normatiza-los e explicar seus fenômenos.
Com isso os mitos vão perdendo seu caráter místico e se revelando através
dos experimentos e das descobertas cientificas, se afastando então do seu
momento histórico e se aproximando do que se acredita real, mas ao mesmo tempo
se reorganizando e se transformando.
Com a negação da metafísica os fenômenos antes vistos como algo
sobrenatural passa a ser explicados através de estudos científicos racionais.
Já não mais se explica o mundo de forma mística, mas sim de forma racional
e positiva o que ordena a realidade e fornece maior compreensão ao homem
dando-lhe mais segurança quanto a sua existência e também da existência de
todas as coisas.
Esse suposto conhecimento cientifico, cuja fórmula seria a de
desmistificar o mito, em sua tentativa faz com que o próprio esclarecimento se
mistifique e necessite de outra explicação racional como um processo de
metamorfose.
A ciência se coloca como a ferramenta para a superação do mito, da lenda,
da metafísica, da magia, mas sucumbe no mundo dos mitos que se formam pelo
esclarecimento, então ela procura se auto - afirmar com base no conceito de uma
ciência unitária, onde tudo, para justificar sua existência deve se adequar em
uma unicidade e dentro de padrões universais.
A racionalidade segundo os autores, passou a desempenhar um papel
fundamental na existência do homem á partir do momento em que ele passa a ter
um maior domínio sobre a natureza e as suas invenções como a imprensa, o canhão
e a bússola lhes deram mais condições de se desenvolver e a partir de então o
mundo foi se transformando, mas o que realmente contribuiu para isso foi às
descobertas, os saberes, os esclarecimentos do homem.
De acordo com a teoria proposta, quando o entendimento vencer e destruir
todas as superstições ele então irá imperar e operar sobre a natureza
desencantada.
Quando o saber estiver à
disposição de todos então se espalhará o poder e para o homem já não mais
importará os conceitos da verdade, mas sim os da operacionalidade de
procedimentos eficazes que promovam melhores condições de vida. E essa é a
função da ciência.
Nessa condição de homem esclarecido ele irá cada vez mais buscar o
desconhecido impulsionado pelo seu desejo de revelação, de explicar todos os
mistérios.
Esse é o desencantamento do mundo, é a destruição do animismo, é a não
admissão da existência dos Deuses punitivos para suas almas, pois não mais
acreditarão na existência da alma que antes cumpria o mito de dar vida ás
coisas.
Nesse trajeto, todos os fundamentos antigos cairiam, os conceitos seriam
revistos, o que antes era conceito trocariam pela fórmula, a causa pela regra e
probabilidade, tudo seria explicável a partir de critérios, de cálculos e de
utilidade, e o mito seria derrotado pela força do pensamento.
Mas, segundo os autores o poder libertador do esclarecimento é o que o
transforma em mito, pois se trata de algo totalitário que ao contrario de
aparecer como libertador do homem, na verdade esse se faz prisioneiro daquele e
o homem passa a viver sob o jugo do seu próprio esclarecimento, dominado por
ele e reduzido pelas forças do cotidiano.
Assim o mito transformado em conhecimento também transforma a natureza em
mero papel de objetividade e o homem a ele sucumbe mais uma vez, prisioneiro de
tudo aquilo que ele julga exercer o poder e a sua libertação dos mitos, dos
dogmas religiosos, das forças da natureza o transforma em refém do capital, dos
modos de produção, da vida moderna.
O tempo e as transformações que vieram com o esclarecimento acabaram por
entrelaçar o individuo nas teias do mito do trabalho e da dominação e ele se vê
impotente diante dessa realidade e tenta se despir dos seus medos e avançar,
pois o esclarecimento agora é dominante e não há mais lugar para exercer a sua
humanidade plena ele está refém do mito da sua condição de homem social,
civilizado e moderno.
Em tese, de todo o esclarecimento que o homem adquiriu durante a sua
história não parece ter sido capaz de afastar ou destruir seus medos, e o medo
primitivo mitológico sempre o fará regredir, como humano, como indivíduo.
Em contrapartida esse mesmo medo
que hoje o acompanha em não conseguir sobreviver diante do mundo desenvolvido e
esclarecido, onde há os riscos da exclusão social, da incapacidade de suprir as
necessidades do mercado de trabalho, da incerteza causada pelo mercado do
consumo, e da sua insatisfação como mercadoria, que o absorveu no processo de
coisificação da sua condição de humano, serve param impulsiona-lo.
È esse impulso provocado pelo medo que o faz lutar, ir em frente
permitindo passivamente a sua massificação, a sua perda de identidade, a sua
castração como ser pensante.
E tudo isso faz com que ele próprio, a sua arte, o seu saber, o seu
esclarecimento se transforme em mercadoria e todo o seu sonho de liberdade se
aliena na continuidade e reprodução de um sistema capitalista que o mantem
alienado em uma falsa sensação de liberdade, mas que na verdade o aprisiona e o
domina.
Como disse Schelling,quando o saber desampara o homem a arte entra em
ação, pois ela está muito a frente da ciência. Mas o mundo burguês nem sempre
abre espaço para as representações da arte ou da fé, pois elas se mostram como
militantes em umas verdades não necessariamente universais e essas
características de ambas podem ser nocivas para os planos da burguesia
capitalista que pretende se manter no domínio do outro e no poder econômico e
social.
Eis o conceito do esclarecimento Humano “O Homem fazendo-se crer livre
torna-se escravo”.
Sua resenha ficou ótima, muito esclarecedora, pois no livro o autor floreia e dificulta a leitura, tornando-se cansativa.
ResponderExcluirSua resenha ficou ótima, muito esclarecedora, pois no livro o autor floreia e dificulta a leitura, tornando-se cansativa.
ResponderExcluirObrigada pelo feedback!
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